domingo, 27 de junho de 2010

A Lingerie Vermelha

E lá estava ela, com aquela patética lingerie vermelha, fumando o último cigarro da carteira enquanto debilmente bebia em goles longos um café.

Seus pensamentos estavam longe. Sua única ligação com o real era através dos objetos que tocava e de uma angústia intimidante que a lembrava de que ainda estava viva.

Esboçou uma careta quando se deu conta de que o café há muito já estava frio e decidiu ir até o andar de baixo, não que ela tivesse vontade disso, mas porque era uma tentativa impensada de sair dali e que no caminho esquece-se de tudo que rondava sua mente e não lhe deixava em paz.

Enquanto descia as escadas mais uma vez perdeu-se no limbo dos pensamentos. Quando voltava a si não sabia exatamente quanto tempo havia se passado e encontrava-se imóvel no degrau. Seria isso o princípio da loucura? Essa questão excitou seus sentidos e fez com que sentisse medo. Muito medo.

Mas poderia demorar o quanto quisesse descendo as escadas. Infelizmente não existia ninguém para esperar por ela. Essa conclusão a inquietou novamente, como que para negligenciá-la desistiu do andar de baixo, subindo depressa até o quarto.

Como se tivesse medo de enfrentar as escadas novamente, recusou-se a descer para buscar um copo d´água, engolindo um comprimido com o resto de café frio.

Deitou-se, fechou os olhos e tentou se refugiar em cenas da infância, a inocência contundente, a melancolia de finais de dias de verão. Aquele vento quente que passou tão rápido e a trouxe ao mundo feio dos adultos: agarrada a sua boneca adormeceu e quando acordou já havia ficado tarde demais.

Abriu os olhos antes que chorasse. Sentia anseio intenso de fugir. Chegava a se imaginar correndo e com unhas sobre-humanas perfurando o próprio peito, rasgando a carne e deixando cair as vísceras ao chão. Parecia a única solução plausível para aliviar aquela pressão interna que comprimia seus órgãos.

Numa explosão de lágrimas ácidas, chorou. Sentiu pena de si mesma. Quis mudar de vida.

Era recorrente. Sempre voltava a esta mesma conclusão: “vou mudar, sei o que me faz mal. É só deixar para trás”. Mas também sempre se lembrava do quanto era fraca. Teria que enganar seu cérebro mais uma vez e fazer de conta de que tudo estava bem. Por que é tão simples para as pessoas comuns e tão difícil para ela aceitar o sonho lúcido?

terça-feira, 22 de junho de 2010

Considerações sobre o tempo I

O tempo passa mais rápido de olhos fechados. Bem fechados. Bem rápido.